198 Livros, Turcomenistão

Livro do Turcomenistão – The Tale of Aypi | Projeto 198 Livros

Livro 28 de 198Quando eu vi que tinha sorteado o Turcomenistão para ser o próximo país do projeto Volta ao Mundo em 198 Livros, não consegui conter a animação. Acho que isso se deve mais pela minha curiosidade daquela região de países terminados com “ão” do que na verdade o que eu sei sobre o país. Porque até então eu não sabia nada, a não ser sua localização geográfica na Ásia Central.

Mandei mensagem para uma amiga que ama viajar e ler, assim como eu, e ela me falou: “Turcomenistão é um dos países mais fechados do mundo. Vistos difíceis de serem tirados. Ditadura completa.” Depois disso foi aí que eu fiquei ainda mais curiosa para saber um pouquinho mais sobre o esse país e o Projeto 198 Livros é minha maneira de viajar para lá só que sem sair do sofá de casa.

Para escolher o livro do Turcomenistão para o projeto, fui conferir as listas da brasileira Camila Navarro e da britânica Ann Morgan. Eu sempre confiro as dicas delas pois as duas já terminaram esse projeto há muitos anos. Nessa ocasião, as duas tinham escolhido o mesmo livro do mesmo autor.

Depois de ler as resenhas em seus respectivos blogs, já vi que eu ia gostar da história. A única diferença foi que quando elas leram esse livro, ele ainda não tinha sido publicado em inglês, então elas acabaram lendo uma versão em inglês que o próprio autor mandou para elas. Que incrível isso! Já eu tive uma facilidade maior pois o livro foi publicado recentemente.

The Tale of Aypi é uma novela do premiado escritor e jornalista turcomeno Ak Welsapar, autor de mais de 20 livros e um dos mais famosos escritores modernos da Ásia Central. Por ser uma pessoa politicamente engajada e por criticar o regime do país, seus livros foram censurados no Turcomenistão e ele acabou sendo perseguido tendo de se exilar na Suécia onde vive há mais de 20 anos. Apesar de escrever em turcomeno, russo e sueco, muitos de seus livros estão sendo traduzidos para o inglês e com isso sua obra vem ganhando reconhecimento em vários países do mundo.

A história se passa em uma pequena e isolada aldeia de pescadores que fica de frente para o mar Cáspio em algum lugar no Turcomenistão durante o regime soviético. Essa é uma aldeia que já existe há centenas de anos, a qual várias gerações de pescadores viveram, trabalharam e morreram ali. Somos apresentados à uma dessas famílias que é formada por Araz, pescador e um dos principais personagens desse livro, sua esposa e seus dois filhos pequenos.

Os cientistas da cidade descobriram que ali na aldeia tem um ar muito bom, perfeito para curar doenças respiratórias. Então o governo e empreendedores resolveram expulsar aquelas famílias dali para poderem construir um empreendimento exatamente onde se encontra essa vila de pescadores. No entanto, eles todos precisam ser realocados para a cidade, onde o governo já deu-lhes apartamentos. Enquanto isso, todos eles foram proibidos de pescar nas águas do mar Cáspio.

Acontece que Araz é o único que não aceita a realocação enquanto os outros pescadores se encontram todos os dias para discutir esse assunto, mas parece que meio que já aceitaram que não muito mais o que se fazer. Eles estão meio indecisos ainda de deixar suas tradições, profissão, seu lar mas acreditam que talvez tenha chegado a hora de aceitar se mudar pra cidade, afinal, talvez seria mesmo melhor se modernizar, estar mais próximos dos filhos que estudam na cidade e da geração futura de netos que também serão criados na cidade com outros valores que não aqueles da vila.

Enquanto esse entrevero vai se resolvendo, somos apresentados a lenda de Aypi, outra das personagens principais do livro. Aypi era uma mulher muito jovem e muito bonita que vivia nessa mesma aldeia centenas de anos atrás. Certo dia, visitantes misteriosos chegam de barcos na pequena aldeia e encontram a bela Aypi na praia. Eles começam a conversar e oferecem um lindo colar de rubi à Aypi em troca dela contar como era a vida ali. Ela por sua vez conta tudo, desde como fazem para viver, para pescar e tudo mais que sabe. Eles vão embora rindo da cara dela.

Quando Aypi aparece na vila com o colar de rubi no pescoço, logo todos os moradores se revoltam acreditando que ela havia acabado de amaldiçoar a vila e por conta disso ela é banida de lá. Seu próprio marido dá cabo de sua vida, jogando ela do topo de um penhasco no mar e é o peso do colar que faz com que Aypi afunde e se afogue no mar.

Com tudo isso acontecendo na vila, o fantasma dessa mulher injustiçada começa a se agitar e vai buscar por vingança. Apesar das passagens com Aypi misturarem fantasia e realidade, o papel dela na história é questionar as decisões que os moradores tomam. Ao circular pela aldeia, podendo entrar nas casas a seu bel-prazer, ela observa que a modernidade não lhes trouxe felicidade. Aypi também desafia o medo que os homens têm de mulheres independentes.

Aypi, que havia levado todos eles a esse estado, ficou impressionada com apenas um homem: Araz. Ela já o havia considerado seu maior rival, já que não havia como melhorá-lo. No entanto, depois de ver os outros homens do vilarejo, a raiva dela em relação a ele diminuiu diariamente. Era uma pena que seu destino já estivesse selado.

Há muitos temas e camadas nesse romance. Além de ser uma tentativa de ilustrar a injustiça dessa natureza intrusiva do governo que só está interessado no que beneficia a si mesmo, por outro lado vemos conflitos universais sendo discutidos como tradição e modernidade, velhos e jovens, vilarejo e cidade. Ak Welsapar é um daqueles escritores que usam uma história de um lugar específico para pintar um quadro mais amplo do mundo ao seu redor.

The Tale of Aypi foi publicado originalmente em turcomeno em 1988 e traduzido para o inglês em 2016. O livro está disponível em inglês na Amazon.

Para saber mais sobre o Projeto 198 Livros, clique aqui.

Curtiu? Compartilhe.

Deixe seu comentário