África, Marrocos

Fez, a capital espiritual do Marrocos

A cidade de Fez foi a última parada da minha viagem de 10 dias de carro pelo Marrocos. Eu já havia explorado os souqs de Marraquexe, caminhado pelo histórico kasbah de Ait Benhaddou, admirado um oásis de palmeiras no Vale do Dades, visitado um mercado de animais em Rissani, andado de camelo no Deserto do Saara e explorado as ruelas da cidade azul de Chefchaouen.

Vivi todas essas experiências incríveis em poucos dias. Posso dizer que fechei essa viagem com chave de ouro ao visitar a cidade medieval mais antiga do mundo mulçumano, Fez.

Curtumes De Chouara
Fez, no Marrocos.

Um fato curioso é que eu não conseguia acreditar que ia conhecer a ‘cidade da Jade’. Quem aí é da minha época e assistiu a novela O Clone entre os anos de 2001 e 2002, vai se lembrar da personagem Jade vivida pela atriz Giovanna Antonelli. Algumas cenas da novela foram realmente gravadas na medina de Fez.

Aquela Nadia que aos 13 anos de idade assistia a novela e se apaixonava pela cultura marroquina, mal podia sonhar que um dia estaria vendo tudo isso de perto com seus próprios olhos. Fez é uma cidade que além de ser muito importante na história do país, foi para mim uma das mais fascinantes que visitei no Marrocos.

Você vai encontrar nesse post:
Sobre Fez
Como cheguei em Fez
Roteiro » Dia 1
Roteiro » Dia 2
Restaurantes em Fez
Hospedagem em Fez

Sobre Fez

Fez – que você também irá encontrar com as grafias Fes ou Fès – é uma cidade localizada no norte do Marrocos capital da região administrativa de Fès-Meknès. Com uma população de aproximadamente 1 milhão e 200 mil habitantes, Fez é a segunda maior cidade do Marrocos.

Fundada no ano de 789 por Idris I, Fez é uma das mais antigas capitais imperiais do Marrocos. Ela é a cidade medieval mais antiga do mundo muçulmano e hoje uma das maiores medinas mais bem preservadas do mundo. Apesar da capital política ter sido transferida para Rabat em 1912, Fez continua sendo a capital cultural e espiritual do Marrocos.

Fes el-Bali, a parte murada mais antiga da cidade e Fes el-Jdid, outra parte importante da cidade, juntas formam a Medina de Fez, que foi tombada como patrimônio mundial da UNESCO. Eu ainda vou falar muito mais sobre essa medina de Fez logo mais abaixo no post.

Nahdika em Fez
Vista panorâmica da medina de Fez, no Marrocos.

Fez também é uma cidade muito importante da civilização, da cultura e da educação islâmica. A começar que é aqui na medina de Fez que se encontra a universidade mais antiga do mundo, a Universidade Al Quaraouiyine. Além disso, possui também um dos curtumes mais antigos do mundo, o Curtume de Chouara.

Fez possui inúmeros edifícios religiosos (mesquitas, mausoléus, templos, sinagogas) e um grande número de monumentos históricos (madrasas, riads, fondouks, palácios, fontes). Antiga cidade imperial, guardiã da fé, capital espiritual, cultural, artística e científica – esses são alguns dos termos utilizados para expressar a riqueza e a beleza dessa cidade.

Como Cheguei Em Fez

Eu cheguei em Fez duas vezes na mesma viagem. Calma, eu vou explicar o que isso significa pra você que ainda não leu os outros posts do Marrocos aqui no blog. Quando planejei minha viagem para o Marrocos, eu comprei um pacote de viagem com uma agência local que me levaria de Marraquexe pra conhecer o Deserto do Saara e por fim me levaria até Fez.

Da primeira vez que cheguei em Fez, foi ao final desse pacote de viagem. Esse dia foi bem longo e um pouco cansativo. Cobrimos mais de 450km de carro em um só dia desde o deserto em Merzouga, passando rapidamente pelas cidades de Zaida e Ifrane.

Esse passeio terminou quando, no final da tarde, chegamos de carro com o motorista da tour que nos deixou na riad que já havíamos reservado com antecedência. Nesse dia estávamos tão cansados que só conseguimos jantar e dormir, pois no dia seguinte tínhamos que pegar um ônibus de manhã bem cedinho para Chefchaouen.

Viagem de carro pelo Marrocos
De carro em Ifrane à caminho de Fez, no Marrocos.

Da segunda vez que chegamos em Fez foi dois dias depois, voltando de ônibus de Chefchaouen para Fez. Dessa vez iríamos passar os próximos 2 dias explorando a cidade. A passagem de ônibus foi super baratinha e a paisagem da viagem foi cinematográfica.

Chegamos no terminal de ônibus na Gare CTM que fica na região de Atlas, parte nova da cidade. Desse terminal de ônibus pegamos um táxi até o Bab Bou Jeloud, uma das entradas da medina de Fez. Pois era lá que ficava a riad onde já havíamos reservado com antecedência a hospedagem para as próximas duas noites.

Roteiro Em Fez » Dia 1

Fez, por ser uma cidade relativamente grande e com muitas atrações interessantes espalhadas em diversos pontos da cidade, incialmente pode parecer meio confuso planejar um roteiro, que inclua os principais pontos de interesse da cidade.

Eu tinha dois dias para visitar Fez, então escolhi separar um dia para cada parte da cidade. Lembrando que eu fiz o passeio sozinha sem a companhia de um guia turístico, mas pense bem para decidir o que é melhor para você.

Antes de viajar para Fez eu já havia pesquisado os locais que queria conhecer na cidade. No primeiro dia eu escolhi visitar a parte de dentro da medina, chamada de Fes el-Bali. No segundo dia, eu visitei os locais fora da medina, em Fes el-Jdid e Ville Novelle.

Os pontos de interesse listados abaixo não estão em ordem de importância e sim de localização, fica tudo praticamente numa reta só. Confira abaixo o roteiro que eu montei e que talvez pode te ajudar quando você estiver planejando a sua visita à Fez:

Fes el-Bali

Fes el-Bali é a medina de Fez. Medina é uma palavra árabe para ‘cidade’. Como eu já mencionei anteriormente, a Medina de Fez é um patrimônio mundial da UNESCO. Eu fiquei hospedada em uma riad dentro da medina e no primeiro dia decidi visitar alguns dos principais pontos de interesse que também ficam aqui. Mas antes de começar, eu vou contar um pouquinho da história dessa medina pra vocês entenderam a importância desse lugar.

Logo que Fez foi fundada durante a dinastia Idríssida, imigrantes árabes começarem a se estabelecer nessa região dando inicialmente essa característica árabe que ela possui até hoje. Depois disso, a cidade recebeu inúmeras influências de outras dinastias que também foram deixando suas marcas, como por exemplo com a adição dos estilos arquitetônicos mouriscos e marroquinos.

A princípio, se aventurar por Fes el-Bali pode parecer um pouco assustador, devido ao pouco espaço, aos labirintos de infinitos corredores, aos produtos de todos os tipos expostos no exterior das lojas, a multidão de pessoas e ao transporte de cargas feitos por animais. Aliás falando nisso, Fes el-Bali é a maior zona urbana do mundo sem carros.

Mas a real é que em pouco tempo você se acostuma com aquele ambiente e você vai se sentindo cada vez mais à vontade de ir conhecendo tudo sem medo de se perder. Ou talvez até se perdendo, porque assim é que o passeio fica ainda mais interessante.

Bab Bou Jeloud

Na minha opinião, a maneira mais fácil de conhecer a medina de Fez é começando do começo. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que o melhor ponto de partida para essa tour é no Bab Bou Jeloud, ou Blue Gate, ou Portão Azul.

A riad que eu estava hospedada ficava somente uns minutinhos de caminhada daqui. Então peguei o gps do telefone e segui até em frente à esse marco histórico para começar minha aventura por dentro da medina.

O Bab Bou Jeloud é a entrada superior e principal da medina de Fez. Antigamente toda a medina era fortificada com muros, tinham torres de vigias e os portões eram fechados à noite. Para acessar a medina as pessoas tinham que passar por uma entrada mais ou menos como essa.

Porém, no caso específico do Bab Bou Jeloud, ele foi construído recentemente no ano de 1913 durante o protetorado francês. As colunas desse portão são ornamentadas e decoradas com mosaicos azuis. A razão da cor azul é porque ela representa a cor da cidade, que é famosa pelas suas cerâmicas pintadas com desenhos em azul cobalto.

Madraça Bou Inania

Assim que você entra na medina, veículos motorizados já não são mais permitidos. Logo você encontra dois becos principais que aqui eu vou chamar de rua. A rua Tala’a Kebira, que falo muito mais logo abaixo, e a rua Tala’a Sghira, que eu caminhei nela só até chegar a madraça Bou Inania, um dos principais pontos de interesse em Fez.

As madraças são muitos comuns nas cidades do Marrocos. Madrasa é uma palavra árabe para uma instituição educacional, seja ela secular ou religiosa. A madraça de Bou Inania é composta por uma mesquita e uma madraça, que foram construídas entre os anos de 1350 e 1355 por um dos sultões da dinastia Marinid.

Eu fiquei muito feliz quando descobri que ia dar pra entrar e conferir esse marco histórico por dentro porque vários outros lugares interessantes na cidade não permitem a entrada de não-muçulmanos, principalmente as mesquitas.

Uma vez que você entra no pátio central da madraça é como se você estivesse dentro de um mundo paralelo. Toda aquela muvuca e barulheira da medina desaparecem e dão lugar à uma atmosfera tranquila.

Os turistas e os locais visitam a madraça silenciosamente, olhando atenciosamente cada detalhe da estrutura. As colunas de mármore, os azulejos coloridos e inscrições em árabe são verdadeiras obras de arte à céu-aberto. A arquitetura da madraça é tão antiga, preservada e rica em detalhes que é simplesmente um grande privilégio poder presenciar tudo isso de pertinho.

Rua Tala’a Kebira

Assim que você entra na medina pelo portão Bab Bou Jeloud, você encontra dois becos principais que aqui eu vou chamar de rua. Uma delas é a Tala’a Sghira e a outra a Tala’a Kebira. Depois de ter visitado a madraça Bou Inania, eu fiz exatamente o que o funcionário da riad sugeriu: desci reto toda a vida a rua Tala’a Kebira até chegar nos curtumes de Chouara.

Essa é uma dica muito boa pra quem estiver pensando em conhecer a medina de forma independente. Pois a Tala’a Kebira é uma das ruas mais longas e mais importantes da medina de Fes el-Bali. Nessa rua se encontram alguns dos principais souqs assim como também alguns dos principais marcos históricos da medina, como por exemplo, a madraça Bou Inania, a mesquita Chrabliyine, o maristan Sidi Frej, a madraça al-Attarine e a universidade al-Quaraouiyine. Isso pra citar alguns deles.

Então no meu primeiro dia em Fez eu caminhei de uma ponta à outra dessa rua e depois voltei pra o começo dela, onde ficava a riad que eu estava hospedada. Vou ser sincera, que na minha opinião um dia foi pouco para conhecer tudo. Só deu mesmo pra ver alguns desses principais marcos históricos, são os que eu listei abaixo. Mas sendo mais sincera ainda, acho que pra conhecer bem mesmo a medina de Fez, talvez nem uma semana inteira seja suficiente.

Mesquita Chrabliyine

Assim que eu comecei a descer a rua Tala’a Kebira em direção aos Curtumes de Chouara, uma das construções que se destacava logo mais à frente era o minarete da mesquita Chrabliyine. Por causa da quantidade de construções da medina, eu não podia ver a base da mesquita, mas o lindo minarete surgia imponente no horizonte no meio daquela confusão toda. É uma vista fantástica, muito diferente de tudo que já vi por aí.

Essa mesquita foi fundada no século 14 durante a dinastia Marinid, tendo sido restaurada algumas vezes desde então. Ela possui uma junção de vários estilos arquitetônicos mas principalmente marroquino-andaluz e islâmico. De acordo com a pesquisa que eu fiz, o nome da mesquita deriva da palavra cherbil, que é um tipo de sapato feminino que algumas lojas ao redor dessa mesquita vendem até os dias de hoje.

Chrabliyine Mosuqe
Vista do minarete da mesquita Chrabliyine na rua Tala’a Kebira, em Fes el-Bali.

Souq el-Henna

A palavra souq ou souk significa bazar/mercado. Geralmente cada souq é especializado em um tipo de produto e por isso acaba levando o nome desse produto. Então em Fez você vai encontrar diversos desses souqs especializados em: produtos de couro, mel, cerâmica, temperos e por aí vai. Visitar cada um desses souqs dá para ser feito de maneira independente, mas para não perder os que te interessam mais, talvez seja bacana você fazer esse passeio com um guia credenciado.

O souq el-Henna é um dos souqs mais antigos e mais bonitinhos também, porque ele fica em uma pracinha com algumas árvores ao centro. Aqui eles vendem várias coisas, mas principalmente produtos de cerâmica, produtos farmacêuticos, cosméticos, pó de henna e folhas de henna seca.

Maristan Sidi Frej

Logo no final da praça do souq el-Henna existe um bazar dentro de uma construção fechada. Onde hoje se encontra essa construção, no passado existia um manicômio. A palavra maristan significa ‘hospital’ no mundo islâmico antigo.

Esse local foi um antigo hospital psiquiátrico fundado no século 13. Na época, a medicina era muito avançada no mundo islâmico. Os pacientes aqui eram tratados com música, aromas e outros métodos para acalmá-los. O Maristan de Fez foi um dos maiores e mais famosos do Marrocos tendo funcionado até o século 20. Com o passar do anos e desvios de verbas o hospital foi se degradando até que em 1944 um fogo destruiu tudo.

Posteriormente foi construído no mesmo local um fondouk. Existem inúmeros fondouks espalhados dentro da medina. Antigamente os fondouks eram uma espécie de estabelecimento comercial utilizado por mercadores e viajantes, que se hospedavam nos andares de cima e nos andares de baixo ficavam os estábulos para seus animais. Hoje em dia virou um bazar.

Eu gosto muito de poder visitar esses locais e descobrir um pouco mais da história deles. A maioria das vezes não tem como imaginar o tanto de história cada edifício desse tem. Se a gente não estiver com um guia ou se não tiver feito uma pesquisa antes, parece só um mercado num prédio bonito. Mas quando você descobre a história que tem por trás, fica tudo mais emocionante.

Mausoléu De Moulay Idriss II

Localmente conhecida como Zawiya ou Zaouia de Moulay Idriss II, esse mausoléu é um dos marcos históricos mais importantes da medina de Fes el-Bali. Ele fica localizado logo atrás da maristan de Sidi Frej, pertinho também do souq Attarine.

Aqui se encontra a tumba de Moulay Idriss II, o principal fundador da cidade de Fez. Moulay Idriss II governou o país do ano de 807 à 828. Esse local é considerado um dos santuários mais sagrados do Marrocos, inclusive recebe a visita de muitos peregrinos de várias partes do país.

Junto do mausoléu tem também aqui uma mesquita e infelizmente esse complexo não está aberto para visitação de não-muçulmanos. Mas mesmo assim eu quis passar em frente e dar uma conferida pra ver se eu conseguia ver alguma coisinha mesmo que pelo lado de fora.

Universidade al-Quaraouiyine

A madraça de al-Quaraouiyine ou al-Qarawiyyin foi estabelecida inicialmente como uma mesquita no ano de 859 por Fatima al-Fihri. Ela teria imigrado juntamente com sua família quando ainda jovem da cidade tunisiana de Kairouan (homônima da mesquita e da universidade). Ela teria usado sua herança para financiar a construção de uma mesquita para sua comunidade com uma universidade associada, conhecida como madraça. Sua intenção era retribuir à comunidade que acolheu sua família.

A mesquita al-Quaraouiyine foi o ponto inicial, com espaço suficiente para 22.000 fiéis. Em seguida teria sido adicionada a madraça, que é considerada a universidade mais antiga do mundo em operação contínua e que oferece diplomas, de acordo com a UNESCO¹ e o livro Guinness de recordes.²

Hoje em dia tanto mulheres como homens podem frequentar a universidade. Nos últimos anos, o corpo discente feminino cresceu à medida que o valor da educação na cultura aumentou. Infelizmente, somente muçulmanos podem visitar a universidade e a mesquita por dentro. Os não-mulçumanos podem só espiar pelo lado de fora, que foi o que eu fiz!

Place Seffarine

Continuando nossa caminhada em direção ao curtume, depois de passar pela universidade chegamos à essa pequena praça, cheia de gente e de estabelecimentos comerciais. O barulho dos martelos batendo no ferro vinha de todos os cantos da praça. Eu cheguei a conclusão que eu deveria estar no souq dos produtos de ferro, cobre ou alumínio.

E não é que minha dedução provou-se acurada? A Place Seffarine é nomeada por causa do funileiros – seffarin em árabe – que têm suas oficinas aqui há séculos. Há relatos da presença desses profissionais pelo menos desde o século 16. Muitos dos edifícios ao redor dessa praça também datam dessa mesma época, mas já foram renovados diversas vezes desde então.

Curtume De Chouaria

Finalmente depois de nos aventurar sozinhos pela medina, chegamos ao que para mim era highlight do dia. O lugar que eu mais queria conhecer e que também é um dos principais pontos turísticos de Fez: o famoso Curtume de Chouaria. Vir até Fez e não visitar esse marco histórico é a mesma coisa de ir à Paris e não ver a torre Eiffel ou ir à Agra e não ver o Taj Mahal.

O curtume é um local dentro da medina que desde a Idade Média é especializado em todo o processo da confecção de couro. São dezenas de tanques onde primeiramente os trabalhadores enxáguam o couro em um tanque de soda cáustica; em seguida as peles são penduradas para secar nos prédios ao redor dos tanques. Depois de secas, as peles voltam para os tanques com corante, para passarem pelo processo de tingimento.

Como eu já havia dito antes, a gente caminhou pela medina sozinhos sem a ajuda de um guia e fomos andando reto toda a vida, seguindo o fluxo de pessoas desde o portão Bab Bou Jeloud até chegar ao curtume na rua Chouara. Porém, aqui fomos abordados por guias/vendedores das lojas de couro que te convidam para entrar na loja e subir até o terraço/sacada de onde você pode ter uma visão privilegiada do curtume.

View at Number 10
Curtume de Chouara

Eu já tinha visto uma dica em um blog ou instagram, infelizmente não vou lembrar de quem, dizendo que uma das vistas mais legais era a de um lugar chamado Terrace View at Number 10 ou você pode encontrar esse mesmo local em outros mapas com o nome Terrasse de Tannerie 10 Ali Baba.

Esse foi o primeiro terraço que subimos. Eu paguei uma pequena taxa pra o vendedor, ao entrar na loja ele me deu um ramo de hortelã para caso eu achasse o cheio do curtume muito forte e em seguida nos levou até o terraço da loja. Eu não fui obrigada a comprar nada na loja, eles até tentaram vender porque isso faz parte do trabalho deles. Mas eu só agradeci e disse que no momento eu não estava interessada em comprar.

Pra mim foi emocionante quando olhei o curtume pela primeira vez. É uma visão única, algo que por mais que a gente leia e veja fotos, nada se compara à ver com os próprios olhos. É simplesmente surpreendente. Poder observar os trabalhadores, ver as peles secando, ver os tanques coloridos, até sentir o cheiro fedido e imaginar que esse lugar existe há centenas e centenas de anos e que você está vivenciando uma parte da história. Essa experiência é simplesmente emocionante.

Do terraço de onde eu estava notei que umas das lojas à minha esquerda recebia um enorme número de turistas. Fiquei curiosa pra ir até lá conferir a vista daquele ângulo. Então eu dei uma volta por detrás de várias lojas até chegar em uma loja que não tenho certeza exata do nome, mas pelo que vi no Google Maps parece que se chama Leather Shop With Rooftop Terrace. Novamente tive que pagar uma pequena taxa, mas dessa vez não teve ninguém para me guiar, visto que haviam dezenas de turistas entrando e era só seguir o fluxo.

Essa segunda loja de couro tinham uns 3 andares. No segundo andar ficavam as janelas que eu falei que estavam cheias de turistas. A vista daqui também é impressionante, valeu a pena ter vindo conferir. Mas o que eu gostei mais de foi de ter subido até o terceiro e último andar. Lá em cima tem um terraço que quase ninguém sobe e uma vista panorâmica da medina que é de tirar o fôlego.

Nahdika em Fez
Vista panorâmica de Fez, no Marrocos.

Eu já vi fotos na internet de algumas pessoas caminhando entre os tanques do curtume, onde os trabalhadores estão. Eu confesso que não gosto muito dessa atitude, simplesmente pra tirar foto e bombar nas mídias sociais. Além de ser perigoso eu acho também uma falta de respeito, com certeza deve atrapalhar muito quem trabalha ali. Você consegue aprender muito e ver tudo mesmo que de longe. Não há necessidade de invadir o espaço dos trabalhadores.

Roteiro Em Fez » Dia 2

A verdade é que meu principal objetivo do segundo dia era ir à procura do Royal Palace. Acabou que não consegui encontrá-lo, porém descobri alguns outros lugares que não estavam no meu roteiro mas que mesmo assim foram ótimas surpresas.

Lembrando que eu tinha só a parte da manhã e o começo da tarde livres. Pois no final da tarde teria que voltar pra riad pra pegar minha coisas e depois dar um jeito de ir para o aeroporto. O voo de volta para Londres estava marcado para o começo da noite.

Fes el-Jdid

No segundo dia em Fez decidi explorar a medina de Fes el-Jdid, que juntamente com a medina de Fes el-Bali formam o patrimônio mundial da UNESCO da cidade de Fez. Fes el-Jdid é a cidade, ou melhor dizendo, é a medina fundada pela dinastia Merinide em 1276 para ser a cidadela real e capital de Fez.

É aqui que fica o Royal Palace de Fez, o bairro histórico judeu Mellah, além de diversas mesquitas, sinagogas, vários bastiões e portões monumentais. Muitas dessas estruturas que sobreviveram praticamente intactas durantes séculos e séculos e que hoje possuem uma importância histórica imensurável.

Jardim Jnan Sbil

Então o dia começou logo cedo pela manhã quando deixamos a riad e fomos caminhando até a medina de Fes el-Jdid. Eu adoro explorar a cidade à pé, acho essa a melhor maneira de conhecer os cantinhos secretos da cidade, assim como me possibilita interagir mais com a população local.

A primeira parada do dia foi no jardim Jnan Sbil que também é conhecido como Bou Jeloud Gardens. Eu realmente não esperava encontrar uma área verde, tão bonita e espaçosa assim logo ao lado da medina. Esse jardim – que se encontra entre as medinas de Fes el-Bali e Fes el-Jdid – originalmente era exclusivo para as elites reais.

Foi surpreendente passear pelas largas avenidas do parque, admirar a paisagem, ver os grupinhos de jovens jogando conversa fora, ver famílias passeando ao redor do lago com o forte Borj Sheikh Ahmed como plano de fundo. Enfim, esse passeio serviu pra me mostrar que Fez possui muitas faces. Fez vai muito além da medina, que geralmente é o único local que os turistas conhecem.

Mesquita al-Hamra

Continuei a caminhada rumo ao Royal Palace quando notei que havia chegado em um outro bazar, bem diferente daqueles que eu havia visto na medina de Fes el-Bali. A começar que a rua Grande Rue aqui é bem mais larga quando comparada às da outra medina. Em segundo lugar, eu notei que não haviam turistas se aventurando por aqui, a não ser eu e o Junior é claro.

Uma das construções que mais se destaca aqui é o minarete da mesquita al-Hamra ou Red Mosque, como ela também é conhecida, já que a palavra hamra significa vermelho. Aparentemente, essa teria sido a cor original da mesquita. É emocionante poder admirar uma construção que data provavelmente do século 14. Recomendo muito uma caminhada por essas bandas da cidade!

el-Hamra mosque, Fez
Bazar da Grand Rue com a mesquita el-Hamra ao fundo.

Shopping Center Borj Fez

Depois do passeio pela medina de Fes el-Jdid eu já estava ficando com fome pra almoçar. Procurei no mapa por algum restaurante com boas avaliações no TripAdvisor que estivessem próximos de mim, mas não achei nada. Dei aquela apelada e pesquisei por um shopping center. Qual não foi minha surpresa ao ver que tinha um à 20 minutos de caminhada.

Ao chegar nesse enorme shopping center – depois dos 2 dias passeando na parte antiga da cidade – eu fiquei até em dúvida se realmente ainda estava na mesma cidade. O shopping center Borj Fez fica na parte nova da cidade de Fez, chamada Ville Nouvelle.

Não tenho muito que dizer do shopping porque todo mundo já sabe como é um shopping center por dentro, são todos iguais no mundo todo. Mas pra mim foi uma experiência bacana ter vindo até aqui por causa desse contraste maluco que foi: um dia fazer compras na muvuca dos bazares da medina e no dia seguinte passear pelos corredores modernos do enorme Borj Fez.

Pra fechar o passeio com chave de ouro comi uma sobremesa divina na praça de alimentação do shopping. Era um bolo de sorvete. Só tenho isso para falar, vou deixar que as imagens abaixo falem por si só. Se um dia eu voltar pra Fez, com certeza vou voltar nesse shopping só para comer esse bolo mais uma vez.

Tumbas Dos Merinides

A última parada do dia, antes de voltar pra pegar as malas, foi na verdade uma indicação da Wa Fae, uma funcionária da riad. Durante o café da manhã, estávamos conversando sobre vários assuntos, quando ela me disse que seu local favorito na cidade era Tumbas dos Merinides, e que não poderíamos ir embora de Fez antes de ir lá conferir a vista desse lugar. Uma coisa eu te digo: se um local te recomenda alguma coisa, pode confiar! (bom, pelo menos a maioria das vezes)

Então depois do almoço, pegamos um táxi em frente do shopping center e pedimos para que o taxista nos levasse até as tumbas. Além de não termos muito tempo sobrando, as corridas de táxi aqui no Marrocos são bem baratinhas, então unimos o útil ao agradável.

No passado, essa área era uma necrópole da dinastia Marinide, mas hoje em dia esse conjunto de tumbas está em ruínas e serve mesmo como um mirante que é bem popular entre os locais. A vista panorâmica da medina de Fez daqui de cima é simplesmente incrível. Dica excelente da funcionária da riad e que agora eu compartilho aqui com vocês.

Restaurantes Em Fez

Cafe Clock

Dois motivos me trouxeram ao Cafe Clock de Fez. O primeiro foi o fato que eu já tinha ido nesse mesmo restaurante em sua outra filial localizada em Marraquexe. O segundo motivo foi o fato de que ele ficava à 5min de distância da minha hospedagem em Fez.

Para ser sincera, achei o Cafe Clock de Fez bem mais bonito e mais original do que o de Marraquexe. A localização não podia ser melhor, fica dentro da medina, bem pertinho do portão Bab Bou Jeloud. Por dentro, o restaurante tem vários ambientes diferentes e a decoração marroquina chama muita atenção. Com os mais diferente objetos, lindas almofadas e uma iluminação um pouco mais discreta que deixa o ambiente bem aconchegante.

Esse não é um restaurante para você que está querendo fugir dos turistas. Mas sim pra você quer conhecer outras pessoas, pois esse local é uma ótima opção porque é bem animado e está sempre cheio. Principalmente à noite. O menu aqui é de comida típica marroquina com algumas pequenas adaptações para agradar o paladar dos estrangeiros. Eu recomendo.

Chez Rachid

Mais um restaurante que eu fui e recomendo. O Chez Rachid me surpreendeu por dois motivos: o preço em conta e a comida gostosa. Aqui eles vendem comida típica marroquina, tudo bem simples mas muito saboroso. Eu cheguei bem cedo, então consegui pegar uma mesinha do lado de fora, bem na calçada, de camarote acompanhando toda aquela agitação da medina. Em pouco tempo todas as mesas ficaram lotadas.

Falando nisso, o restaurante Chez Rachid também é super bem localizado. Fica dentro da medina, praticamente do lado do portão Bab Bou Jeloud. Ao redor dele tem diversos outros restaurantes bem parecidos, mas esse é o mais renomado e também com melhores avaliações. Eu peguei uma sopa harira, simplesmente porque fiquei viciada nessa sopa durante a viagem pelo Marrocos. Peguei também um prato de frango com arroz e vegetais, que só de lembrar me dá água na boca.

Jardin Chrifa

O restaurante Jardin Chrifa fica dentro da riad de mesmo nome. Inclusive foi nessa riad que me hospedei na noite que cheguei de viagem do deserto. Depois de umas 10 horas de viagem de carro, eu estava tão cansada, que o máximo de esforço que eu consegui fazer foi descer do quarto para comer no restaurante da acomodação.

Qual não foi minha surpresa, quando depois no dia seguinte descobri que na verdade o restaurante Jardin Chrifa é super bem avaliado no TripAdvisor e que além disso, até os locais costumam vir jantar aqui. Apesar de ser um restaurante pequeno, o ambiente é super bonitinho e o atendimento é impecável.

A comida então nem se fala, uma delícia. Dessa vez eu experimentei um prato marroquino diferente, se chama chicken bastilla. É como se fosse uma torta recheada de frango e omelete apimentada, que por sinal estava divino. Só achei um pouco diferente o fato que a casquinha da cima da torta tem amêndoas e eles pulverizam com açúcar! Esses negócios de misturar doce com salgado não é muito comigo.

Hospedagem Em Fez

Uma das experiências mais bacanas que eu tive em Fez foi me hospedar em uma riad. Esse é um tipo casa tradicional marroquina construída em volta de um pátio. Algumas ainda contam com uma pequena piscina e/ou terraço. A maioria dessas riads foram convertidas em hotéis de poucos quartos, o que faz com que os hóspedes sejam atendidos em um ambiente mais familiar.

Geralmente, as riads se encontram dentro da medina, ou seja o centro antigo da cidade. Essa região é um ótimo local para se hospedar por ser próxima das principais atrações turísticas.

Dar Mehdi

Eu fiquei hospedada na riad Dar Mehdi por duas noites, logo no finalzinho da viagem pelo Marrocos. Eu já tinha reservado a hospedagem com antecedência através do site do Booking. Os motivos que me fizeram escolher essa riad foram principalmente: a localização e o preço.

Vou começar falando sobre a localização. A riad Dar Mehdi fica dentro da medina, à uns 5 minutos andando do Bab Bou Jeloud, que é a principal entrada da medina. A riad fica em um dos becos laterais da principal via da medina, mas como eu estava seguindo o gps do celular foi até bem fácil de achar.

Ao entrar no beco, umas crianças me perguntaram onde eu ia. Eu não falei o nome da riad e disse que já sabia onde estava indo. Elas insistiram que poderiam me levar e eu continuei ignorando-as e seguindo em frente. Assim que eu cheguei na porta da riad, uma criança falou: ‘Olha, aqui está! Essa é a riad Dar Mehdi.’ Eu respondi que já sabia disso.

Acontece que essas crianças me pediram dinheiro por “terem achado a riad pra mim” e eu disse que não ia dar pois tinha achado sozinha. Nessa o funcionário da riad apareceu e as crianças começaram a conversar com o funcionário da riad na língua deles. Pelo tom da conversa eu vi que coisa boa não era. O dono da riad deu umas moedas e as crianças foram embora. Nessa o dono da riad me perguntou se estava tudo bem e se eles tinham me perturbado. Eu disse que sim, e que não dei dinheiro pois havia achado a riad sozinha sem a ajuda delas.

Enfim, passada essa situação, fomos recebidos no pátio interno da riad com chá de hortelã e bolachinhas. O funcionário foi super simpático, primeiro nos explicou sobre o café da manhã e nos deu algumas outras informações sobre a riad. Em seguida ele nos levou até o terraço da riad que ficava no terceiro andar. A vista lá de cima é impressionante. Por fim ele nos mostrou nosso quarto.

Fiquei apaixonada com a decoração do quarto, os tapetes, os lustres, os quadros e tudo mais. Não gostei muito do banheiro e ele não cheirava bem, era pequeno, velho e sem janelas. Mas deixei a porta do banheiro fechada o tempo todo, então o cheiro não passou pro quarto. A roupa de cama estava limpinha, a cama e os travesseiros eram confortáveis.

O café da manhã estava incluso na nossa diária e confesso que não esperava muito, mas fiquei surpresa com o tanto de coisa que nos foi servido. Tinham vários pastries, pão com manteiga e geleia, panquecas, suco de laranja e café. Tudo bem fresquinho e preparado na hora. Isso porque a riad é pequena e possui somente alguns quartos. Então ao invés de fazer um buffet grande e deixar lá pro pessoal se servir, eles preparam o café da manhã individualmente, conforme os hóspedes vão aparecendo.

Riad Jardin Chrifa

Eu tive a oportunidade de me hospedar em duas riads diferentes em Fez e eu fiz isso de propósito. Melhor dizendo, eu fiz isso para ter dicas boas para indicar pra vocês que me acompanham aqui no blog. A riad Jardin Chrifa foi na verdade a primeira que me hospedei em Fez, mas eu coloquei ela em segundo lugar aqui no post pois eu gostei mais da riad Dar Mehdi.

Eu havia reservado a riad Jardin Chrifa com antecedência, pois era a noite que eu ia chegar da viagem do deserto. Nesse dia nós viajamos por mais de 8 horas de carro. Foi por isso que reservei com antecedência, pois sabia que ia chegar cansada e de noite. Procurar uma acomodação nesse estado e ainda por cima carregando uma mochila nas costas não é nada fácil.

Apesar da riad ficar dentro da medina, eu não gostei muito da localização. Ela fica uns 700m metros do Bab Bou Jeloud, no meio de uma área residencial. Então a localização foi um dos motivos de eu não ter gostado muito. O edifício da riad em si é bacana, muito bem decorado, o atendimento dos funcionários também foi agradável e o restaurante é excelente (inclusive eu já falei dele aqui no post).

O quarto era enorme, tinha uma cama de casal com 4 pilares nos cantos. Parecia aquela coisas de Ali Baba e as Mil e Uma Noites. O que eu não gostei foi do banheiro. Pequeno, fedido e sem janelas. Ainda pior, o chuveiro não tinha pressão e o ralo não escorria a água direito, então quando eu tomava banho se formava aquela poça de água nojenta.

Agora pega esse pulo do gato fenomenal: eu ia chegar de noite e na manhã seguinte queria ir para a cidade de Chefchaouen. Eu não ia ter tempo de ir até a rodoviária comprar os bilhetes, porém tinha lido em vários blogs que as vezes essas passagens esgotam com antecedência. Então dias antes da viagem, mandei um email pra riad perguntando se eles podiam comprar as passagens de ônibus para mim e quando eu chegasse acertaria o valor das passagens com eles. Tudo feito como combinado. Ao chegar na riad nossas passagens estavam lá. Isso daí ajudou muito a gente, nos salvou um tempão e por isso sou grata a eles. Mas tirando isso, não indico a hospedagem aqui.

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3 comentários em “198 BOOKS”

  1. Impressionante e muito bem detalhado tudo que você viu e presenciou em Fez no Marrocos, me senti viajando com vocês. Acho muito interessante essas cidades que preservam muito do começo de sua história. Previlégio você ter conhecido um lugar tão rico de beleza única como a cidade de Fez.

    1. Foi uma oportunidade única, um verdadeiro privilégio! Fiquei encantada como algumas partes da cidade de Fez ainda tem muita de suas construções preservadas. Pra quem gosta de historia, cultura e culinária, Fez é uma cidade imperdível. 😉

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