Se eu tinha uma certeza quando viajei para o Sudeste Asiático, era que queria conhecer o maior número de ilhas possíveis. De fato, as ilhas mais famosas do Sudeste Asiático são as ilhas da Tailândia. Mas quando eu ouvi falar que a (ainda) pouco conhecida pequena ilha Koh Rong no Camboja era um paraíso, achei que deveria dar uma chance. Afinal, quem sabe eu não descobriria um novo paraíso menos explorado pelo turismo em massa, que se tornaria um dos meus favoritos?
Durante meu mochilão pelo Sudeste Asiático, conheci algumas pessoas que já tinham viajado para essa ilha. Apesar das recomendações serem boas, quase todo mundo me falava a seguinte frase: “Tem muito rato nessa ilha!” Eu não conseguia acreditar nessa história que uma ilha paradisíaca pudesse ter muito rato. Então fui descobrir por experiência própria se era verdade ou exagero.
Nesse artigo você vai encontrar:
1. Sobre Koh Rong
2. Como cheguei em Koh Rong?
3. Pontos de interesse
4. Perrengue de viagem
5. Saindo de Koh Rong
1. Sobre Koh Rong
A ilha Koh Rong no Camboja é a segunda maior ilha do país, localizada na região do Golfo da Tailândia à 25 km da cidade litorânea de Sihanoukville. Com uma população de aproximadamente 4 mil pessoas (censo de 2019), essa ilha começou a ser povoada recentemente, por meados do ano 2000. Atualmente, ela vem cada vez mais atraindo turistas de todas as partes do mundo, principalmente os mochileiros dado que a estrutura da ilha ainda é relativamente precária.
A ilha é famosa por conta do seu clima tropical, águas cristalinas e principalmente por causa das suas praias de areia branca, tanto na costa leste quanto na costa oeste da ilha. Apesar de parecer ser bem pequena, a ilha conta com mais de 43km de praia. Contudo, durante minha visita em 2016 ainda não havia estradas, nem carros na ilha. Então a locomoção de uma praia à outra era feita somente a pé ou de barco.
Já o interior da ilha é ocupado por uma vegetação densa. Há trilhas para atravessar para o outro lado da ilha, mas a sinalização é bem precária. Importante informar também que há bastante pernilongo (aqui eles chamam de sandfly) na mata, mas principalmente na praia Royal Beach (7k Beach). Por isso há tantos locais vendendo produtos feitos à base de óleo de coco.
2. Como Cheguei Em Koh Rong?
Quando fiz o mochilão pelo Sudeste Asiático, só depois de chegar em um novo destino eu decidia quanto tempo ia ficar por lá e qual seria o próximo destino. Depois de curtir uma semana na cidade de Sihanoukville, decidi que estava na hora de seguir viagem e ir conhecer a ilha Koh Rong.
Um dia antes, comprei a passagem de barco só de ida na rua Serendipity Beach (rua 502) em Sihanoukville. Tinham duas opções de passagens para essa viagem: um barco mais rápido e mais caro ou um barco mais devagar e mais barato.
Comprei a passagem do barco mais barato, o slow boat. Eu geralmente não tenho problema de enjoo quando viajo de slow boat. Mas devo confessar que essa viajem foi bem demorada e também bem enjoativa. Olha que eu tenho estômago forte para passeios de barco.
O barco fez uma primeira parada em Koh Rong Samloem, que pelo que eu vi parece ser uma ilha menor e menos estruturada do que Koh Rong. Ficamos alguns minutos ancorados esperando enquanto algumas pessoas desciam e outras subiam à bordo. Em seguida continuamos por mais alguns minutos rumo à ilha Koh Rong.
Ao chegar no píer da praia Kaoh Touch na ilha Koh Rong, pediram para todos que estivessem saindo do barco se sentassem no restaurante em frente ao píer para ouvir as ‘instruções’ da ilha. Que eram as seguintes:
• Evitar atravessar pela mata para o outro lado da ilha, pois existem muitas cobras por ali e poderíamos ser picados. Haviam casos recentes de pessoas que tinham sido picadas por cobras. Caso quiséssemos ir conhecer o outro lado da ilha, poderíamos pagar para ir com barcos que saíam desse mesmo píer;
• Tomar muito cuidado onde iríamos comer e beber, pois nem todos os restaurantes eram limpos e confiáveis. Caso quiséssemos comer em um restaurante confiável, poderíamos comer ali despreocupados pois a comida era muito saborosa, limpa e com preço acessível;
• Em caso de diarreia ou sintomas de infecção alimentar durante nossa estadia, deveríamos esperar 3 dias pra poder ter certeza e aí sim procurar o único médico da ilha. Porém, caso precisássemos urgente desse médico, poderíamos pagar uma consulta quando quisesse pois ele ficava localizado ali, logo atrás do restaurante;
• Não deveríamos andar pelas áreas que os cambojanos moram, pois eles gostam de sua privacidade e poderiam se sentir incomodados com a nossa presença;
• Que ali no restaurante e no hotel do píer, eles tinham vagas para mochileiros que quisessem trabalhar em troca de alimentação e acomodação;
• Por fim, que a ilha só tem bangalôs de bamboo e madeira, e que ali onde estávamos era o único lugar oferecendo acomodação em construções de cimento e os únicos com ar-condicionado. Caso precisássemos de acomodação, eles ainda tinham alguns quartos disponíveis.
O cara dando as tais ‘instruções’ era um turco que me pareceu ser um funcionário/gerente do negócio todo: o barco, o píer, o restaurante, o bar, o hotel, a clínica e etc. Tudo uma coisa só, de um dono só. Eu já tinha visto turcos gerenciando o píer lá em Sihanoukville, então a minha primeira impressão foi a de que um grupo de turcos se instalaram na ilha e dominaram grande parte do negócio local.
Eu até vi alguns cambojanos na ilha mas eles não me pareciam ser os donos dos negócios. Me parece que eles trabalham para os estrangeiros, como esses turcos. Ficou claro que essas instruções tinham um único motivo: era uma armadilha para vender serviços. Ou seja, cheguei a conclusão que não precisávamos ter ficado ali pra ouvir isso.
3. Pontos De Interesse Em Koh Rong
Após encontrar um hotel para passar a noite, deixei as malas no quarto, almocei no restaurante do mesmo hotel e já tinha a programado como seria o resto do dia. Minha intenção era caminhar pela praia Kaoh Touch Beach até a Long Set Beach (4k Beach) e depois disso voltar para o hotel, tomar um banho e ir jantar. A programação do dia seguinte seria pegar o barco para ir para o outro lado da ilha passar o dia na Royal Beach (7k Beach).
Kaoh Touch Beach
Aqui na praia Kaoh Touch fica o principal píer de acesso à ilha. Por esse motivo, a maioria das guesthouses e dos bangalôs também se encontram aqui. Foi aqui que chegamos, foi aqui que ficamos hospedados e também foi aqui que fizemos nossas refeições.
A atmosfera dessa praia durante o dia é bem relax, o pessoal passa dia aproveitando a praia. Porém à noite, tem um pouco mais de movimento, com o pessoal indo jantar fora e curtindo baladinhas ao por do sol. Confesso que eu nunca vi uma areia tão branca e tão fofinha como a da Kaoh Touch Beach, fiquei realmente impressionada. A razão disso que eu dei pra mim mesma, foi que essa areia ainda não foi muito pisada. 😬
A primeira coisa que fizemos na ilha logo após deixar as malas no hotel, foi parar pra tomar uma Cambodia Beer em um dos barzinhos de frente com a praia. Nesse momento, algumas crianças locais vieram se sentar com a gente. Eles até pareciam querer conversar, mas acho que o que eles realmente queriam era o nosso celular pra ficar jogando joguinhos.
Logo em seguida, fizemos uma caminhada pela Kaoh Touch Beach até a Long Set Beach (4k Beach) que durou um pouco mais de uma hora. Fomos andando bem devagar observando os turistas, os moradores, os funcionários dos hostels e as acomodações ao longo do caminho. Simplesmente curtindo a ilha e tirando algumas fotos.
Long Set Beach (4k Beach)
Depois de um pouco mais de uma hora de caminhada desde Kaoh Touch Beach, chegamos em Long Set Beach. O tom azul turquesa e a transparência da água do mar me deixaram encantada. A praia é realmente muito comprida, eu quase não conseguia enxergar aonde terminava. O melhor de tudo é que ela estava do jeito que eu mais gosto: vazia!
Mas foi logo mais adiante que finalmente entendi o motivo por estar tão vazia. Em primeiro lugar, não tem absolutamente nada em volta. Nenhum restaurante, nenhum hostel, nenhum banheiro, enfim. Nada. Acho que por isso a maioria das pessoas preferem ficar na praia Kaoh Touch Beach, onde concentra-se a maior parte dos hostels e restaurantes da ilha.
Decidimos caminhar até mais ou menos o meio da praia, porém um pouco mais adiante notei algo extremamente preocupante: a praia estava cheia de lixo. 🙁 A areia estava cheia de garrafas pet de água que pareciam ter sido trazidas pela maré. Fiquei muito triste ao ver toda essa poluição na praia.
Infelizmente, esse lindo paraíso estava todo poluído. O lixo era daqueles trazido pelo mar o que te faz questionar aonde o lixo produzido na ilha está sendo despejado? Diretamente no mar? Será que eu queria mesmo estar aqui colaborando indiretamente com tudo isso? Seria esse um dos motivos de ter tantos ratos na ilha?
Depois dessa visão decepcionante, a gente até continuou caminhando pela praia, pois a cor da água aqui é surreal de linda. Mas a gente já nem estava mais no clima pra nadar. Eu acho que foi nesse momento que as coisas começaram a degringolar. Decidimos que como ainda tínhamos uma boa caminhada de volta até o hotel, estava na hora de dar meia volta e voltar. Mas o pior ainda estava para acontecer.
4. Perrengue De Viagem
Como eu disse lá no começo desse post, muitos mochileiros que eu encontrei pelo Sudeste Asiático me disseram que essa ilha tinha muitos ratos. Eu não queria dormir em bangalô para não correr o risco de ver ou escutar eles correndo durante a noite, qualquer coisa desse tipo. No caso então peguei um quarto no Coco Boutique Resort, que é um prédio pequeno todo novinho, parecia que tinha acabado de ser construído. Mas já de cara queria deixar claro que eu não recomendo esse hotel.
Antes do anoitecer, voltei pro quarto do hotel pra tomar um banho e ir jantar. Quando abro a porta do quarto o pior me aconteceu. Dei de cara com uma ratazana gigante. Eu não sei quem pulou mais alto, se foi eu ou se foi ela. Ela tinha arrancado um pacote de bolacha de dentro da minha mochila (sim, eu disse dentro da mochila).
Nenhuma de nós duas tinha pra onde correr, ela por falta de espaço e eu por estar paralisada. Meu sistema travou completamente porque eu tenho trauma de rato, achei que ia estar longe deles escolhendo um quarto relativamente limpo e novo no “melhor” hotel da ilha. Acabou que ela correu pro banheiro e até hoje eu não sei que fim deu aquela ratazana.
Não voltei pro quarto e não consegui dormir a noite toda. Primeiro foi a maneira que fomos recebidos na ilha, depois o lixo na praia e por fim, a ratazana gigante. Tudo que eu queria era estar o mais longe possível dali na manhã seguinte. Pois é, eu ainda tinha que esperar até a manhã, pois infelizmente já não tinham mais barcos aquela noite. Quando o primeiro barco deixasse a ilha no dia seguinte, pode ter certeza que eu seria a primeira pessoa a entrar nele pra desaparecer daquele lugar.
5. Saindo De Koh Rong
Aterrorizada com o que tinha acabado de me acontecer, eu fui comprar a passagem de barco pra ir embora na manhã seguinte para Sihanokville. As agências que vendiam as passagens de barco já estavam quase fechando, tive muita sorte por ter encontrado uma que estava quase fechando. Porém, fui informada de que todos os barcos rápidos (fast boat) já estavam esgotados. A opção era mais uma vez pegar o barco devagar (slow boat) pro horário do almoço. Lógico que não pensei duas vezes. Antes morrer de enjoo no barco indo embora do que ter que dormir naquela ilha mais uma noite!
Se você me perguntar: “Valeu a pena ir até lá?” Claro! Pra mim valeu a pena pois conheci um lugar novo, adquiri experiências e aprendizados novos; “Se eu indico?” Lógico! Você tem que ir e conhecer a ilha com seus próprios olhos, a sua experiência pode ser meio desastrosa como a minha como também pode ser completamente diferente; “Se eu voltaria?” Com certeza! Apesar de tudo, Koh Rong é linda e eu ainda quero conhecer a praia Royal Beach (7k Beach).
O turismo no Sudeste Asiático tem crescido em um ritmo muito acelerado o que resulta em algumas ilhas se desenvolverem sem nenhum tipo de planejamento. Eu fiquei no único hotel de concreto da ilha, mas tenho certeza que agora já devam existir tantos outros.
O que eu mais espero é que os turistas e moradores tenham se conscientizado e estejam cuidando da ilha, do saneamento básico e todos os outros aspectos para que o turismo não destrua a beleza do lugar. Eu realmente espero poder voltar no futuro e encontrar a ilha em uma outra realidade do que a de 2016.
Veja todos os posts do Camboja no Mais Um Destino.
Superar os contratempos com certeza leva a belos lugares como esses que você conheceu no Camboja, lugares simples e pouco explorados, só para pessoas corajosas como você, lógico que para ser corajosa, não precisa enfrentar uma ratazana!!
Ahahhahahah…. exatamente!!! Ainda não cheguei nesse nível de coragem. Prefiro um hotel sem ratos e ratazanas. 😛
O importante é que o que fica que são as belezas dos lugares. Um grande abraço lindona.
O Camboja é um país com uma beleza natural exuberante. Já estou planejando voltar pra lá para conhecer as outras ilhas que não visitei na última vez que estive no país.
Passeios sao sempre uma maneira de conhecer e aprender. E nem sempre 100% de coisas excelentes. Acontece. Beijos.
Exatamente, o que importa são as experiências. Se tudo saísse exatamente do jeito que a gente espera, que graça teria? 😉