El Salvador é o primeiro país sorteado para representar a América Central no Projeto 198 Livros. A felicidade do primeiro momento logo se transformou num trabalho difícil que demandou muita pesquisa nessas internet da vida.
Primeiro porque notei que a Camila Navarro ainda não tinha sorteado esse país e depois porque quando conferi a lista da Ann Morgan vi que o autor do livro que ela havia escolhido nasceu na Nicarágua. O que acontece é que para esse projeto eu procuro ler livros de autores nascidos no país, então tive que continuar procurando até encontrar um autor que se encaixasse nesses requisitos.
Dessa vez eu consegui encontrar o livro para representar esse país nos fóruns do Goodreads. Há alguns grupos de pessoas que participam de projetos similares. Não há muitas opções de autores, vi algumas pessoas mencionando o autor Manlio Argueta, e após ler um pouco sobre sua vida decidi que ia ler um de seus livros.
One Day of Life é um romance do escritor salvadorenho Manlio Argueta. O livro narra um dia na vida de uma família de camponeses que é oprimida pela ditadura militar patrocinada pelos EUA mas ao mesmo tempo estão dispostos a resistir essa mesma força. O livro foi banido pelo governo do El Salvador após o seu lançamento em 1980 por suas descrições de violações dos direitos humanos. Eu escolhi esse livro para poder aprender um pouco mais dessa época sangrenta na história do El Salvador.
O que mais destaca nesse livro é a maneira simples que ele é narrado pela personagem principal, Lupe. Ela é mãe, avó, esposa e dona de casa, uma mulher de fibra que ama e cuida de sua família apesar da extrema pobreza em que vivem. O dia de Lupe começa bem cedinho, às 5:30 da manhã logo antes do nascer do sol Lupe já está de pé fazendo seu trabalho doméstico em Chalate, uma pequena cidade rural. Às 5 da tarde o enredo do livro já foi resolvido com a Guarda Civil interrogando Adolfina, neta de Lupe
A brutalidade com que os eventos acontecem muitas vezes choca. Ao mesmo tempo que a simplicidade de Lupe nos encanta. Esse que é o diferencial desse livro, pois a maneira como Lupe narra os acontecimentos é somente mais um dia na vida dela e pra gente é difícil imaginar que histórias assim tenham se repetido diversas vezes nas vidas de muitas famílias do El Salvador antes e durante a Guerra Civil.
”Nós somos todos inocentes. Os únicos culpados pelas coisas ruins que estão acontecendo são as autoridades. Eles com seu jeito de ser. Com seu comportamento. Sim, os únicos que vão pra cadeia ou acabam feridos ou mortos ao longo da estrada são os pobres. E isso porque as autoridades tem uma preferência – eles sabem quem eles devem incomodar. Eles existem pra chefiar os pobres. Pra mandar nos pobres, pra bater nos pobres e carregar os pobres como se fossem animais. Algum dia essa vida boa que eles levam vai acabar. Sempre fazendo isso pras pessoas, sempre. É daí que vem todo esse orgulho deles. Uma vez que estão em seus uniformes eles pensam que são reis do mundo e eles mesmo dizem que estão dispostos a qualquer coisa. É assim que é.”
Durante a pesquisa que fiz na hora de escolher o livro descobri que o El Salvador viveu uma guerra civil sangrenta que durou 12 anos ocasionando a morte de aproximadamente 75 mil pessoas. Descobri também que o país tem uma das maiores taxas de homicídios do mundo dos últimos 10 anos. Outro fato chocante é que El Salvador ocupa o terceiro lugar nas taxas de feminicídio do mundo. Por esses motivos, todos os dias centenas de pessoas – homens, mulheres e crianças – fogem desse país para a América do Norte.
Com tantos problemas, eu acredito que o El Salvador ainda está longe de ser um país seguro para conhecer, mas ainda bem que tive a oportunidade de viajar pra lá através das páginas desse livro.
One Day of Life publicado originalmente em espanhol em 1980. O livro está disponível em inglês na Amazon.
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