198 Livros, República do Congo

Livro da República do Congo – Black Moses | Projeto 198 Livros

República do Congo é o primeiro país a ser sorteado no quinto ano consecutivo do Projeto 198 Livros, continuando assim nossa viagem literária pela África, já que o último livro lido no projeto foi o da Eritreia. Será que encontrar um livro da República do Congo foi uma tarefa difícil? Continue lendo esse post para descobrir quais os critérios usados e qual foi o livro escolhido.

Eu sempre digo que esse projeto é a melhor maneira de aprender mais sobre outros países do mundo. Pois logo após o sorteio desse país, lá estava eu pesquisando o que é o Congo? De onde vem esse nome? Qual a diferença entre a República do Congo e a República Democrática do Congo?

Muita gente acredita que esses dois países possuem Congo no nome por conta do Rio Congo, que forma parte da fronteira entre os dois países. Só que na verdade, o Rio Congo recebe seu nome por conta do antigo Reino do Congo, e não o contrário. O Reino do Congo era uma antiga civilização africana localizada na região central da África, na área que hoje é a República do Congo, a República Democrática do Congo e partes da Angola e do Gabão.

Entretanto para não causar ainda mais confusão, vamos concentrar somente no país sorteado, a República do Congo. É comum se referir a este país como “Congo-Brazzaville”, esse nome é uma referência à capital do país, Brazzaville. Que por sua vez leva esse nome por conta do explorador francês Pierre Savorgnan de Brazza (daí o nome Brazzaville) que em 1880 estabeleceu uma colônia francesa na região.

Para decidir qual livro seria minha escolha, primeiro conferi o livro lido pela brasileira Camila Navarro, foi quando me deparei pela primeira vez com o nome do autor Alain Mabanckou. A Camila além de ter escolhido um livro desse autor para o seu projeto, comentou no post dela que ele é um dos escritores africanos mais famosos da atualidade. Essa afirmação teve grande peso na hora da minha decisão. Em seguida fui conferir a lista da britânica Ann Morgan, que por um acaso também leu um outro livro desse mesmo autor. Sendo assim, tive a certeza que escolheria o mesmo autor, só faltava então decidir qual livro.

Black Moses é um livro de ficção do novelista e professor de literatura francesa da Universidade da Califórnia, Alain Mabanckou. Ele é um premiado escritor e poeta congolês, nascido e criado na cidade de Pointe-Noire, litoral da República do Congo. O livro dele que escolhi para o projeto foi um dos finalistas para o prêmio Man Booker International no ano de 2017, tendo sido descrito como “Um carnaval poético que narra uma jornada tumultuada pelo submundo de Pointe-Noire no Congo-Brazzaville do final do século 20.”

A história se passa nas cidades de Loango e Pointe-Noire na República do Congo alguns anos após a independência da França, em um período em que o país viveu sob um regime comunista liderado pelo Partido Trabalhista Congolês. Nesse livro vamos acompanhar algumas décadas da vida do protagonista Moisés, desde sua adolescência até a idade adulta.

O livro é narrado em primeira pessoa por Tokumisa Nzambe po Mose yamoyindo abotami namboka ya Bakoko – seu nome significa “Vamos agradecer à Deus, o Moisés negro nasceu nas terras dos ancestrais”, mas por ser um nome muito longo, as pessoas o chamam simplesmente de Moisés.

Moisés tem 13 anos de idade, mora em um orfanato na cidade de Loango, tem um amigo chamado Bonaventure Kokolo. O diretor do orfanato é corrupto e aterrorizante. Os “guardas dos corredores” são familiares do diretor e estão sempre escondidos de butuca, espiando as crianças, para pegá-los fazendo coisas erradas, bater-lhes com varas e dedurar para o diretor. Mas apesar disso, Moisés e Kokolo brincam e se divertem com as outras crianças.

Tudo parece ir bem até que certo dia o padre Papa Moupelo, professor de catequese e uma das pessoas que tem grande influência na vida de Moisés, não aparece nunca mais no orfanato. Em seguida quem some é uma das faxineiras, por qual Moisés tem grande carinho, muitas vezes a enxergando como uma figura materna.

Certo dia, a bandeira da República Popular do Congo é hasteada no pátio do orfanato. Em seguida o diretor aparece para fazer um discurso, no qual ele fala que todos agora são “os construtores e protetores da Revolução Científica Socialista e que precisam perseguir os inimigos da Revolução, inclusive aqueles que vivem em nosso próprio país, com a mesma cor de pele que a nossa, os lacaios locais do imperialismo.”

Moisés foge do orfanato para a cidade de Pointe-Noire onde ele passa a dormir nas ruas e se envolver com uma gangue local para fazer pequenos roubos. Além disso, ele também se relaciona com um grupo de prostitutas locais, e até chega a fazer pequenas tarefas no bordel onde elas trabalham. Mas essa vida desvirtuada dele logo chega ao fim, quando o prefeito da cidade de Pointe-Noire se empenha em combater o crime e acabar com a prostituição na cidade para continuar se reelegendo.

Acompanhamos então os trágicos desdobramentos da vida de Moisés, que agora se encontra sem dinheiro, sem família, sem amigos, sem trabalho. Toda injustiça sofrida ao longo de sua vida e a realidade brutal e corrupta do Congo-Brazzaville nas décadas de 1970 e 80 leva Moisés ao limite. A gente acompanha a transição de uma criança inocente à um adulto sofrido, alcóolatra e por vezes agressivo.

O que a princípio parece ser lembranças de uma infância passada em um orfanato congolês, gradualmente se torna em um relato surreal, uma espécie de fábula. Para mim, um livro triste sobre uma realidade dolorosa de uma vida de muitas dificuldades. O próprio autor do livro Alain Mabanckou cresceu na cidade costeira de Pointe-Noire, a qual que ele descreve com grande vivacidade dando ainda mais autenticidade a história.

Black Moses foi publicado originalmente em francês em 2015 e traduzido para o inglês em 2017. O livro está disponível em inglês na Amazon.

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