De todos os 198 países que compõem essa lista do projeto, na verdade 5 deles ainda não são reconhecidos como países pela ONU e alguns deles são territórios em conflito. Esse é o caso do Saara Ocidental, um território localizado no norte da África, conhecido por ser a última colônia africana. Mas antes de falar sobre o livro, a gente precisa primeiro falar um pouco sobre a história desse local.
Os espanhóis colonizaram a região em meados do século 19. Com o fim do regime durante a década de 70, eles se retiraram do território dividindo a administração entre o Marrocos (dois terços do território na região norte) e a Mauritânia (terço sul).
No início dos anos 70, os saaráuis formaram o movimento revolucionário chamado Frente Polisario, que representa os interesses do povo saaráui. Após fechar um acordo de paz com a Frente Polisario, a Mauritânia abriu mão da sua parte. Por outro lado, a guerra entre a Frente Polisario e o Marrocos se prolongou por quase duas décadas. Em 1998 as Nações Unidas formularam uma proposta de paz para a região, porém essa situação permanece não resolvida até hoje.
Cuentos Saharauis de Mi Abuelo é uma série de contos do autor, poeta e jornalista saaráui Bahia Mahmud Awah, traduzido do hassaniya para o espanhol pela escritora espanhola Concha Moya.
A geografia do território do país é praticamente toda desértica, com uma grande população beduína que seguem o modo de vida nômade. Por isso a cultura do país é principalmente baseada na tradição oral. Era dessa maneira que as pessoas aprendiam sobre o corão, as rotas das estrelas e as obrigações como indivíduo e para também com seus parentes.
As primeiras páginas do livro traz uma introdução do autor sobre a dinâmica da sociedade saaráui. Hoje em dia, a sociedade nômade tem diminuído consideravelmente, mas na época, os pequenos saaráuis saiam acompanhados de seus pais em busca de pasto para os animais durante o dia.
Esses contos são o resultado da memória das crianças de algumas histórias que eram ouvidas durante a noite, no calor da casa ou de uma fogueira, depois de passar um dia à procura de pasto no deserto. Eles fazem parte da ficção popular e não se tratam de fatos verídicos.
Os personagens mais relevantes e celebrados desses contos são os animais. Eles falam e se comportam como seres humanos. Os principais são o porco-espinho, o chacal, a lebre, a ave abertada, a vaca, o lobo, o leão, a coruja e o avestruz.
Cada animal é conhecido por uma característica única que difere dos demais. Por exemplo, Shertat era uma espécie de urso, que acredita-se que existia na região mas que foi extinto. Shertat sempre cai nos erros mais catastróficos por causa de sua falta de jeito, sua falta de educação e sua gula. Ele é ganancioso, rude, mentiroso e covarde, defeitos que são muito malvistos na sociedade saaráui.
Outro também bem conhecido é Ganfud, o porco-espinho. Ele é considerado o mais inteligente dos animais, conhecido por sua astúcia, inteligência e sua aparente bondade. Isso só para citar alguns deles, mas a maioria dos contos são acontecimentos do dia a dia entre um ou mais de um desses animais.
Por fim, eu gostaria de comentar o fato que não é assim tão fácil encontrar um livro do Saara Ocidental, principalmente porque a cultura desse país segue principalmente a tradição oral. Por esse motivo encontrei pouquíssimas opções de livros na internet, inclusive nenhum dele em inglês ou português. Foi por isso que escolhi comprar esse em espanhol, que inclusive é o primeiro livro que leio em espanhol na vida. Espero eu que seja o primeiro de muitos.
Cuentos Saharauis de Mi Abuelo foi publicado originalmente em espanhol, em 2015. O livro está disponível em espanhol na editora independente espanhola Bubok.
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