Essa é a terceira vez durante o projeto que eu sorteio um país o qual eu já visitei. Alguns anos atrás eu e meus pais fomos conhecer Budapeste em uma viagem deliciosa que durou 4 dias. Fomos surpreendidos pela beleza da capital da Hungria. Tivemos também a oportunidade de fazer um passeio com guia, daqueles que acontecem todos os dias e não custa nada. Aprendemos bastante sobre a divisão geográfica e o um pouco da história. Então a alegria foi imensa quando sorteei a Hungria pois ia ter a oportunidade de revisitar o país.
Eu pesquisei muito pra poder escolher o livro ideal para o projeto. Mas com tantas opções acabei ficando confusa e corri pedir ajuda à querida Camila Navarro. Apesar dela não ter sorteado a Hungria ainda, ela já tinha em mente que escolheria The Door da escritora Magda Szabó. Eu tive muita dificuldade em encontrar esse livro pra comprar aqui na Inglaterra, então tive que voltar a minha primeira pesquisa e escolher um outro livro.
A Guest in My Own Country do escritor húngaro George Konrád, na verdade o nome dele se escreve György Konrád mas ele prefere que usem a versão inglesa do nome, é um livro de memórias de sua vida. O que pode-se dizer que se trata de um livro autobiográfico. Em 2007 esse livro recebeu o Prêmio Nacional de Livro Judaico.
Em seu livro, George começa contando sobre sua infância em uma pequena cidade no interior da Hungria. Ele é judeu, tem uma irmã mais velha e sua família, apesar de terem boas condições, são também trabalhadores. Durante a Segunda Guerra Mundial, aos 6 anos de idade, seus pais são levados para campos de trabalho forçado e George passa muitos anos sem saber aonde estão e se ainda estão vivos. Logo após seus pais terem sido levados, ele e sua irmã fogem para Budapeste e passam os próximos anos escondidos em prédios com ajuda do governo suíço.
Ele conta detalhadamente como foi viver sendo perseguido, com medo se iria sobreviver ou não, de ser constantemente alvo de insinuações e provocações por parte do exército invasor e de algumas outras pessoas. Há uma passagem no livro que me tocou bastante e que agora eu traduzo para vocês, onde George diz:
“O perigo te torna prático. Somente em momentos isolados você enfrenta a possibilidade da morte – quando alguém segura uma pistola na sua cabeça por exemplo. Então você pensa: sim isso pode acontecer. Você se torna adulto a partir do momento em que enfrenta a sua própria morte. O que significa que eu sou um adulto desde meus 11 anos de idade.”
Outra parte que me chamou atenção é quando o autor diz, que após a guerra, ele e sua irmã voltaram à sua cidadezinha de interior. Um local em que todos as crianças filhos de judeus foram mortos. Alguns dos adultos que sobreviveram ficavam o relembrando constantemente que ele “estava vivendo para outros que morreram, e não apenas para si mesmo.” Imagina o peso dessa afirmação na cabeça de uma criança? Como que ela vai crescer com essa carga emocional gigantesca?
Na segunda parte do livro o autor já traz memórias da sua militância contra o comunismo durante a adolescência e os acontecimentos durante a Revolução de 1956. E posteriormente o autor fala sobre sua carreira de escritor. O que me surpreendeu muito foi que por diversas vezes o autor poderia ter emigrado da Hungria, mas decidiu por não fazê-lo. Ele afirma que a intenção dele nunca foi lutar pelo país estando fora dele. E que se ele era um escritor húngaro, apesar de ter sido silenciado por muitos anos, era na Hungria que ele ia ficar e era ali que ele iria dar continuidade à seu trabalho.
Ler esse livro me deu a oportunidade de conhecer a visão interna de alguém que viveu a história recente da Europa Central. Quando terminei o último parágrafo e fechei o livro, dei um suspiro de agradecimento por ter tido compartilhado da vida e dos ensinamentos desse grande pensador húngaro.
A Guest in My Own Country foi originalmente publicado em húngaro em 2003 dividido em dois livros. Posteriormente, sua tradução para o inglês foi publicada em um livro no ano de 2007. O livro está disponível em inglês na Amazon.
Esse livro ainda não possui tradução para o português.
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Sempre parabéns pelas escolhas e pelo bom gosto e também pela busca de ampliar seu conhecimento sobre às histórias dos países.
Esse projeto é simplesmente maravilhoso. Estou aprendendo muito com os livros.
E todos nós nos sentimos incentivados por você. Beijão.