198 Livros, Bangladesh

Livro do Bangladesh – River of My Blood | Projeto 198 Livros

Depois de um pausa longa de 9 meses (que não foi por causa de um bebê 😂), como estou feliz em poder dar continuidade ao Projeto 198 Livros. Última vez que sortiei e li um livro foi em agosto do ano passado. Daí comecei um curso de guia de turismo em Londres que me exigiu muito tempo, atenção e dedicação. Por isso tive que parar o projeto por um tempo.

Mas agora estou de volta, esperei tanto por esse momento! O país sorteado da vez foi o Bangladesh, a Terra dos Bengalis. Honestamente, são poucas as informações que eu já tinha conhecimento desse país antes dessa leitura. Sabia da geografia, de algumas similaridades com a Índia, sabia que é um país extremamente populoso e predominantemente muçulmano. Confesso que há algum tempo tenho vontade de visitá-lo. Mas por um lado, enquanto ainda não posso fazer isso presencialmente, por outro lado, fazer essa viagem do sofá de casa lendo um livro local já me parece ser um bom começo!

A etapa posterior ao sorteio do país é a pesquisa e escolha do livro. Então eu sempre começo conferindo a lista da brasileira Camila Navarro, que foi onde eu peguei a dica do livro que ela leu e acabei escolhendo o mesmo. Mas como de costume, eu também sempre dou uma olhadinha na lista da britânica Ann Morgan, pois as vezes ela sugere alguns livros bem bacanas também. Geralmente eu consigo escolher através das listas das duas, o que facilita bastante o andamento do projeto. Raramente eu tive que fazer uma pesquisa individual.

River of My Blood é um romance da premiada escritora bangladêsa Selina Hossain. Ela já esreveu mais de 35 novelas e diversas coleções de contos, sendo assim considerada uma das mais importantes escritoras de Bangladesh da atualidade. Suas obras são relatos comoventes das crises e conflitos sociais e políticos contemporâneos, bem como dos ciclos recorrentes da vida das massas que lutam por igualdade e liberdade.

Mas antes, eu queria trazer um pouco de contexto histórico para ficar mais fácil entender a situação do país na época em que a história do livro se passa. Antigamente, antes de Bangladesh ser um país independente, ele fazia parte Índia Britânica, também conhecido como Raj Britânico. Com a partição da Índia em 1947, essa região se tornou a província paquistanesa de Bengal Oriental (posteriormente renomeada como Paquistão Oriental), uma das cinco províncias do Paquistão, separada das outras quatro por 1.800 km de território indiano! A história do livro acontece nesse período em questão. Dá para imaginar quanta turbulência.

No começo do livro somos transportados para o pequeno vilarejo de Haldi, na então Paquistão Oriental, onde acompanhamos a jornada de Boori desde a infância até o final da vida adulta, talvez início da velhice. Mas enquanto a vida de Boori se desenrola com suas alegrias e desafios pessoais, o pano de fundo se transforma em um cenário de horror: os acontecimentos sangrentos e atrozes da Guerra da Independência de Bangladesh, que inacreditavelmente, ocorreu há pouco mais de 50 anos em 1971.

Boori é uma menina muito cheia de vida, muito esperta, digamos, uma criança diferente das outras do vilarejo. As vezes até por isso as crianças (as vezes os adultos) acabam se afastando dela. Mas ela não se importa muito com isso, ela gosta mesmo é de estudar, de brincar ao ar livre e fazer suas descobertas. Assim que ela termina a escola primária, ela pára de estudar porque a continuação dos estudos só era permitida aos meninos.

As coisas começam a mudar quando o pai de Boori e, consequentemente provedor da casa, morre. Daí o irmão dela mais velho assume a posição de líder da família e a responsabilidade de cuidar da mãe e todos os outros irmãos. E aí que logo em seguida Boori, ainda muito jovem, tem a sua primeira menstruação. A mãe dela sabe exatamente o que isso significa, um casamento vai ter de ser arranjado para Boori muito em breve. O irmão dela escolhe um parente que mora ali na vila, mas que é bem mais velho, e que além disso, já é viúvo e com dois filhos bem pequenos. Boori se torna a mãe de criação dessas crianças e com o tempo passa a amá-los muito.

Mas os anos vão se passando e aos poucos ela, que era essa menina inquieta e exploradora, vai se adaptando àquela vida mais tranquila de casada, de cuidar da casa, dos afazeres domésticos, dos filhos adotivos. Mas ainda asism, ela sente um vazio e uma necessidade de ter um filho biológico dela com o marido. Eles tentam ter filhos por muitos anos, ela até chega a visitar templos para participar de cerimônias como forma de conseguir benção para conseguir engravidar. Até que depois de muito tempo dá certo e nasce o Rais. Acontece que com poucos meses de vida, Boori e o marido notam que o bebê não reage, não se assusta, não eminte nenhum som. Então cai a ficha que o bebê nasceu surdo-mudo.

Adiantando um pouco na história do livro, o marido dela morre, os filhos crescem a passam a se envolver com movimentos políticos, um deles se casa e se torna pai, enquanto isso a vida de Boori continua sendo ali no mesmo lugar, do mesmo jeito, criando o filho surdo-mudo, mas agora tendo a companhia da nora e do neto embaixo do mesmo teto. Só que a situação do país já não é mais a mesma. O então Paquistão Oriental que era esse “novo país” que ela cresceu, está passando por guerra civis, onde as atrocidades vão acontecendo com pessoas que Boori conhece e cada vez mais e mais próximas de sua vila.

E o que ela pode fazer? Como pode ajudar? Dentro da realidade da sua vida de uma senhora viúva, pobre e sem nenhum recurso e estudo, ela tem como fazer parte da luta pela independência do Bangladesh? Olha, já deixo o aviso que o final é de cortar o coração. Aqui eu lembro a você o título do livro: Rio do Meu Sangue.

Uma história de resiliência e sobrevivência tecida na tapeçaria brutal de um dos conflitos mais marcantes do século XX. Situada em uma remota área rural de Bangladesh, ao retratar homens e mulheres comuns e iletrados nessa obra, Selina Hossain realça de forma brilhante a essência de tudo o que é heróico, nobre e glorioso na guerra de libertação do povo bangladês.

River of My Blood foi publicado originalmente em bengali em 2003 e traduzido para o inglês em 2016. O livro está disponível em inglês na Amazon.

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